As tecnologias estão constantemente ocupando um espaço importante na sociedade. Pensando nisso, realizamos uma entrevista com o Diretor e o Diretor Médico da CLOUDSAÚDE, Arthur Dinóla e José Branco, para entender qual o impacto das novas tecnologias para o sistema de saúde e a importância que a interação entre equipamentos e aparelhos tem para uma tomada de decisão mais assertiva dentro das instituições. Confira a entrevista na íntegra.
1- Como a interoperabilidade entre tecnologias médicas e os protocolos de segurança do paciente podem ser integrados para melhorar a eficiência e a qualidade dos cuidados em unidades de terapia intensiva?
Arthur Dinóla: Nós temos observado que os protocolos existentes no mercado são aplicados pensando em equipamentos e sistemas de uma forma totalmente isolada. A interoperabilidade oferece a possibilidade de interagir os equipamentos e sistemas, ao mesmo tempo que otimiza os protocolos de segurança. Isso faz com que os profissionais tenham uma visibilidade completa do estado real dos pacientes em uma unidade de terapia intensiva. Estamos seguros de que esse é o futuro que vai proporcionar uma evolução positiva no setor da saúde.
José Branco: A CLOUDSAÚDE tem atendido aos três principais problemas do sistema de saúde atual. Estamos lidando com uma grande quantidade de dados desorganizados, especialmente em relação aos equipamentos disponíveis no mercado. Além disso, enfrentamos a sobrecarga dos profissionais de saúde e uma complexidade dos casos dos pacientes. Apesar de todos os desenvolvimentos tecnológicos na área da saúde, a conectividade entre os equipamentos ainda é limitada e, nós, buscamos justamente essa interação entre os aparelhos. Cerca de 75% dos equipamentos em uma UTI não conversam entre si. Nosso desafio é diminuir essa porcentagem, desenvolvendo ferramentas que possibilitem essa integração.
2. Quais são os principais desafios técnicos e clínicos enfrentados ao implementar tecnologias inovadoras em ambientes críticos como as UTIs?
Arthur Dinóla: Quando falamos de UTI, estamos abordando o ponto mais crítico da saúde. É claro que do ponto de vista clínico, o nosso desafio é não interromper o andamento dos processos das unidades de terapia intensiva e, por sua vez, a conduta dos profissionais que estão na linha de frente. Pelo aspecto tecnológico, o grande desafio é estar na atuação com as empresas provedoras de equipamentos e softwares. Assim, fazer a interoperabilidade desses dados que são coletados. A partir do agrupamento desses dados, podemos prover uma rápida decisão e uma maior assertividade.
Dr. José Branco: A Terapia Intensiva é o centro nervoso do hospital. É nesse local que existe a maior concentração de pacientes graves, cujo custo é muito alto, mas onde tem uma receita muito alta, também. É uma área muito sensível, portanto qualquer procedimento realizado nesse ambiente, é preciso ter muito cuidado.Acredito que, o grande passo dado pela CLOUDSAÚDE, é começar a conversar com os principais players do mercado e apresentar a importância dessa conectividade. Não adianta a empresa ter um excelente produto, mas que não converse com o prontuário, com a cama hospitalar, com a bomba de infusão. Com isso, a gente pode entender melhor as informações e ter uma tomada de decisão muito mais rápida, da mesma forma que os bancos fazem com o caixa. Hoje, não existe mais um banco com caixa exclusivo: todo mundo usa o mesmo sistema, no sentido de que todas as peças possam conversar entre si, sem precisar de abertura geral. Isso vai ser uma quebra de paradigma no setor de saúde.A criação de equipamentos voltados apenas para os parâmetros únicos não pode mais existir. A conectividade é necessária para ganharmos eficiência, reduzir desperdícios e garantir mais segurança aos pacientes.
3. Como a segurança dos pacientes é garantida quando se combina o uso de tecnologias de monitoramento e intervenções terapêuticas e quais são as melhores práticas para mitigar riscos nesse cenário?
Arthur Dinóla: Aqui, voltamos para o principal ponto que é a segurança da informação. Temos a noção de que a segurança do paciente só é garantida justamente a partir da conversa dessas empresas de tecnologia e fabricantes de equipamentos de monitoramento e sistemas. O principal desafio que observamos é a quebra de resistência dos grandes players de trabalhar de maneira isolada. É preciso trabalhar de uma forma mais aberta. E toda a tecnologia só vai ser colocada no sistema de saúde após diversos testes de qualidade.A gente precisa garantir que todos os dados coletados pelos equipamentos sejam exibidos em uma central de monitoramento de maneira íntegra, sem manipulação de dados. Sendo possível gerar um conjunto de informações em tempo real para uma melhor tomada de decisão.
José Branco: Acredito ser fundamental repensarmos o conceito atual de terapia intensiva. Atualmente, existe uma central de monitoramento com vários alertas, mas sem uma análise efetiva desses sinais. O que nós fazemos é trazer esses dados para uma central de monitoramento único que será responsável pela gestão desses dados. Por fim, será possível disparar as informações, facilitando a tomada de decisões e garantindo que as informações cheguem ao médico na UTI, ao médico responsável pelo paciente fora do hospital, ao coordenador da UTI, entre outros.
Essas informações vão chegar de forma antecipada, garantindo a prevenção de danos ao sistema de saúde e aos pacientes. Nós temos muitos pacientes em estado grave que estão sendo monitorados em casa e esses dados também podem ser enviados para a central. Há um campo de transformação fantástico na área da saúde e que vai impactar na redução de custos, mortalidade e na melhoria de segurança dos pacientes.
4. Como vocês veem o futuro da colaboração entre empresas de tecnologias e profissionais e instituições de saúde no desenvolvimento de soluções cada vez mais integradas e personalizadas para atender às necessidades das clínicas e hospitais e melhorar os resultados para os pacientes?
Arthur Dinóla: Nós atuamos lado a lado com profissionais de saúde para assegurar que essas informações estejam sempre alinhadas com as demandas do ambiente. A integração dos equipamentos e dos serviços tem se tornado uma necessidade, dado que diversos fabricantes coletam dados de maneira dispersa. Isso é funcional, mas impossibilita uma visão mais completa do paciente.
Nós vemos cada dia mais que os hospitais estão se tornando enxutos, necessitando de mais informação e rápida tomada de decisão.. Percebemos que uma visão centralizada e mais detalhada, alinhada com uma camada de inteligência, possibilita que o hospital tenha uma melhoria muito grande no processo de cuidado do paciente e, por sua vez, mais foco na segurança do paciente. O principal desafio é esse: somar competências e juntar esse cenário que traga ganhos para os sistemas de saúde. No Brasil, nós estamos bastante avançados nesse aspecto.
Ainda existe uma resistência dos grandes players internacionais, mas o mercado está buscando um ambiente conectado e multimarcas. Os hospitais têm um pouco de tudo, a maioria dos equipamentos são muito bons.. Cada um conhece das próprias competências tecnológicas e nós temos a responsabilidade de criar a conexão e a interoperabilidade entre essas soluções.
Somando essas competências, escutando as necessidades do setor, a gente consegue trazer o que falta para os principais pilares de um sistema de saúde eficiente, com redução de custos e aprimoramento da segurança dos pacientes.
José Branco: Nós estamos em um momento que existe uma grande preocupação com o aumento dos custos da saúde e com o modelo de pagamento. A gente não pode seguir crescendo os gastos na saúde e ao mesmo tempo tendo um desperdício grande. A forma de pagamento por volume não sobreviverá e a saída é pela tecnologia. Não tenho a menor dúvida de que as empresas que trabalham com equipamentos estão olhando para esse ponto com atenção.
A interoperabilidade já existe em diversas instituições de saúde, mas ainda não é tão efetiva e isso precisa ser transformado. Isso vai deixar de ser um projeto que ficará em segundo plano, deve ser uma mudança imediata, assim como as inteligências aumentadas. É necessário fazer a gestão dos dados mais rápido para os profissionais, liberando-nos para outras tomadas de decisão. Para isso, é essencial que os equipamentos conversem entre si.O modelo de certificação das instituições vai cada vez mais caminhar focando na gestão de dados. Não vai observar como o protocolo foi construído, mas vai trabalhar na gestão dos dados, como as decisões são tomadas e qual o impacto disso para a instituição. É preciso olhar a importância desses equipamentos e o que essa falta de interoperabilidade causa aos pacientes. Nosso objetivo é proporcionar uma assistência mais segura e uma gestão abrangente que inclua dados, custos e a futura viabilidade da saúde.
Fonte: Saúde Debate
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